Música negra no topo dos palcos do 20º Coquetel Molotov

Texto: Giovanna Carneiro | Imagens: Fran Silva

A edição de vinte anos do Festival No Ar Coquetel Molotov, que ocupou a Universidade Federal de Pernambuco no último sábado, 21 de outubro, deixou evidente que a história da cultura e da música brasileira foi e está sendo escrita por talentos negros. Os/as artistas que passaram pelos três palcos do evento fizeram apresentações memoráveis que demonstraram como a atual safra da música nacional reflete a contribuição e influência de elementos sonoros afrodiásporicos.  

Da ancestralidade do Afoxé Oyá Alaxé, que fez um show marcante ao lado do rapper britânico Gaika, até o swing baiano de Attooxxá, que convidou os artistas Ciel e Anna Suav, a programação do palco principal do Molotov foi uma verdadeira celebração ao que há de mais novo na música produzida no Brasil sem esquecer de referenciar a base cultural que a formou. 

Luedji Luna encantou o público com sua performance no Palco Molotov. | Crédito: Fran Silva

Com o rap de MC Luanna, N.I.N.A e FBC – com participação de Uana – o blues e R&B de Luedji Luna, o brega de Afroito e o samba de Marcelo D2, o Palco Coquetel Molotov manteve a energia em alto nível do começo ao fim, com destaque para o magnetismo e encantamento causado pela performance de Luedji, que parecia uma divindade no palco, o protagonismo do brega trazido por Afroito e sua banda e o empoderamento presente no canto forte de N.I.N.A, que se emocionou ao final do show ao afirmar que o Molotov era o primeiro festival que a convidou como headliner. 

Afroito fez o show de estreia do seu álbum em homenagem ao brega, intitulado LEBARON | Crédito: Fran Silva

No palco KMKAZE, a atração mais esperada pelo público era o duo das travestis Irmãs de Pau, que fizeram jus às expectativas e entregaram um show apoteótico e enérgico do começo ao fim. Encerrando a edição de 20 anos do Molotov, o Baile da Boneka, com participação da CIA Bregalize, entregou o show mais dançante da noite com um setlist que mostrou que o BregaFunk pernambucano é uma verdadeira revolução cultural que não pode ser ignorada e precisa ocupar o circuito de eventos no estado e no país. Também ocuparam KMKAZE, que teve curadoria da DJ e produtora musical, Libra, a Batalha da Escadaria e as DJs Jacquelone, Geni e Badsista. 

Batalha da Escadaria participou do Palco KMKAZE. | Crédito: Fran Silva

Ainda evidenciando o protagonismo das travestis negras, o palco Natura, montado na Concha Acústica da UFPE, recebeu o show da multiartista paraibana Bixarte que, em parceria com sua backing vocal A Fúria Negra, entregaram uma performance completa, com vocais excepcionais, coreografia e uma presença de palco excepcional. 

Testemunhando como a curadoria da programação influencia diretamente na composição do público, a vigésima edição do Festival No Ar Coquetel Molotov contou com a presença expressiva de pessoas negras de perfis, gêneros e sexualidades diversas, que abrilhantaram o evento com looks criativos e originais. Além disso, a feira de empreendimentos do festival foi realizada em parceria com a Futuro Black, uma empresa social que impulsiona os negócios de pessoas negras.

Show do duo Irmãs de Pau. | Crédito: Fran Silva

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