Mulheres negras movendo Pernambuco

“Eis o tempo da gente pensar a atual conjuntura”
Rosa Marques (Rede de Mulheres Negras de Pernambuco)

Desta sexta-feira (14) até domingo (16), mulheres negras movem o estado durante um encontro estadual que reúne 45 entidades que atuam no enfrentamento ao racismo e sexicismo. O Encontro de Mulheres Negras de Pernambuco vai discutir a atual conjuntura estadual a partir das perspectivas de classe, raça e gênero em um  evento construído coletivamente por meio de reuniões populares. A abertura do encontro tem acesso liberado para todos e todas, independente de raça, e acontece às 19h, na sede dos Bancários de Pernambuco (Avenida Manoel Borba, Centro do Recife).

O evento integra a agenda de ações preparatórias para o Encontro Nacional de Mulheres Negras que ocorre no mês de dezembro, em Goiana (Goiás). A mesa de abertura será composta por Denise Botelho, do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação, Raça, Gêneros e Sexualidades (Geperges/UFRPE), Rivane Arantes, do SOS Corpo, Gilmara Santana, da Articulação Nacional de Negras Jovens Feministas (ANJF), Aparecida Nascimento, do Quilombo Estivas (Garanhuns/PE) e Robeyoncé Lima, primeira mulher trans advogada de Pernambuco . A conversa será mediada por Rosa Marques, socióloga e representante de Pernambuco na organização do evento nacional.

“Esse encontro representa um momento muito rico onde vamos trabalhar coletivamente, dando visibilidade às organizações de mulheres negras bem como ativistas, acadêmicas e todos os âmbitos da sociedade que atuam na discussão racial. Estaremos analisado a estrutura racista das desigualdades raciais em PE e, consequentemente, no Brasil”, discorre Rosa Marques, que integra a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco. Para ela, o encontro também possibiliza a definição e ampliação de “estratégias de resistência frente a conjuntura de retrocessos de direitos” e funciona como aquecimento para as mulheres que vão participar, em dezembro, do encontro nacional, “onde haverá uma troca de saberes entre vários estados para aglutinarmos as nossas forças” por mudanças estruturais.

A mesa que dá o ponta pé inicial ao encontro será aberta para todas as pessoas e convida a sociedade civil para uma análise da conjuntura atual e para debater sobre o espaço das mulheres negras ao longo da história. O objetivo é a promoção da unidade estadual na luta contra o racismo e o sexismo. Como forma de alcançar maior representatividade, o encontro acolheu mulheres de todas as regiões do Estado para um momento de imersão, discussão e preparação para o encontro nacional, em que todo o Brasil feminino negro vai ser reunir para pensar como enfrentar  e lutar contra a crescente perda de direitos recentemente adquiridos.

O encontro foi organizado em cinco meses e envolveu sete comissões voluntárias: comunicação; finanças e infraestrutura; metodologia; creche; mobilização; saúde; e cultura. Só poderão estar do evento as mulheres compareceram nas plenárias de organização, que aconteceram entre maio e setembro. Ao todo, 200 mulheres participarão do encontro.

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O Encontro de Mulheres Negras de Pernambuco foi construído por meio de reuniões abertas que envolveu mulheres de 45 entidades

Este ano, completa-se 30 anos desde a primeira vez que mulheres negras realizaram um encontro em âmbito nacional. O I Encontro Nacional de Mulheres Negras aconteceu no Rio de Janeiro em setembro de 1988 e é em celebração a este evento que foi deliberado no Fórum Permanente de Mulheres Negras, realizado no Fórum Social Mundial de 2018, a organização de outro encontro nacional e a realização de encontros estaduais preparatórios, que em Pernambuco acontece no mês de julho.

“Esse encontro traz à memoria de um encontro que aconteceu há 30 anos em que as mulheres negras do Brasil inteiro pararam para pensar a conjuntura nacional naquele momento. Eis o tempo da gente pensar a atual conjuntura de retrocessos de direitos e vários golpes”, pontua a socióloga Rosa Marques. Segundo ela, o evento também resgata a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a violência e pelo bem viver”, que aconteceu em 2015, e deu origem uma carta composta pelas pautas definidas pelas mulheres contra práticas racistas, que foi entregue à presidenta de então, Dilma Rousseff.  O encontro também vai servir para a construção de um documento assinado pelas mulheres pernambucanas para o encontro nacional e também anuncia as demandas que serão reivindicadas durante o processo eleitoral 2018. “Há uma alienação da sociedade em geral, mas há vários campos de resistência de pessoas que vão lutar por um processo eleitoral legal. Temos mulheres fortes com saberes e conhecimentos que vai nos ajudar a encontrar um caminho”, completa Rosa.

Mais informações na página do Encontro: https://goo.gl/E3abnz

Lenne Ferreira (Afoitas)

Escrito por:

Afoitas Jornalismo

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