Arte de rua e debate na programação junina da ENTREMOVERES no MAB

Mutirão de Arte Urbana no próximo sábado (15) e debate sobre experiências internacionais e viagens com fins artísticos na terça-feira (18) realizados por mulheres negras e indígenas marcam este mês no levante nacional Trovoa, em cartaz no equipamento cultural até o dia 4 de agosto

Monique em Moçambique

A grafiteira baiana Monique (de tranças) na viagem que fez à Moçambique. Foto: Juh Almeida

O Museu da Abolição (MAB/Ibram), no bairro da Madalena, recebe até o dia 4 de agosto a mobilização ENTREMOVERES, uma série de atividades locais movidas pelo levante Nacional Trovoa, em resposta a racialização de mulheres no campo artístico. A programação do mês de junho contempla o Mutirão de Arte de Rua, no sábado (15), e o debate sobre a arte feita por afro-brasileiras em outros países, na próxima terça-feira (18), ambas com acesso gratuito e realizados de caráter independente pelas artistas locais.

A partir das 15h desse sábado (15), pixadoras, grafiteiras e demais artistas visuais negras e indígenas dos estados de Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte e São Paulo realizam a intervenção urbana Arte de Rua, criando um painel coletivo no muro externo do Museu da Abolição, situado ao lado da Praça João Alfredo, são elas: Aline Sales, Anne Souza, Ara’i, Beca, Consuelo C.O (RN), Gleice, Fany, Ianah, Monique (BA), Maré (PE), Nathê, Negahamburguer (SP), Nice, PS, Preta Catão (RN), Priscila Ferraz, Rayellen Alves, Riscoflor.

 

 

No alto do mesmo muro, no lugar dos habituais banners do MAB, foi instalada neste mês parte do trabalho “Anti-bandeirante”, da poeta e artista visual Mariana de Matos. “É uma obra composta por 10 frases, que refutam a naturalização de práticas de dominação e as evidencia como ferida colonial. Ao elaborar conceitos assentados socialmente, a obra versa sobre a dialética da emancipação e busca estabelecer uma relação de revisão do nosso legado colonial”, afirma a autora mineira.

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Anti-bandeirantes, trabalho de Mariana de Matos situado na lateral do MAB.

A experiência de artistas afro-brasileiras em contextos nacionais e internacionais será tema de discussão na roda de diálogos Corpas no Mundo, a partir das 19h da terça-feira (18), no qual as participantes Monique (Bahia), Negahamburguer (São Paulo) e Lia Letícia (Rio Grande do Sul/Pernambuco) falam sobre essas vivências no debate mediado pela pernambucana Nathê. “A mesa é interessante para artistas e pessoas que adoram viajar, compartilhar experiências ou querem viajar com baixo custo ou aprendendo com trocas. Nós nunca viajamos com agências de viagem, somos todas pobres, viajamos sozinhas e fazendo trocas”, conta, sorrindo, Nathê, viajante pelo Brasil com o graffiti.

A Negahamburguer, também do graffiti, já fez mochilões no Uruguai, na Argentina e em países europeus permutando tatuagens e aquarelas. A paulista é autora do projeto que resultou no livro Beleza Real, que reúne relatos de mulheres e ilustrações de figuras femininas e suas histórias repletas de autoestima. Já a grafiteira Monique recentemente viajou para Moçambique com o projeto Griots: Circulação Artística e Educativa Bahia-Maputo 2019, e agora ela retorna em contrapartidas no seu estado. As artistas urbanas conversam sobre a Arte de Rua feita nos países por onde passaram, enquanto que Lia Letícia, a artista visual e realizadora gaúcha radicada em Pernambuco, falará um pouco sobre o curta-metragem Thinya, resultado de seu primeiro contato com o “Velho Mundo” e com o Território Fulni-ô, no município de águas Belas, agreste pernambucano.

MULHERES RACIALIZADAS NAS ARTES

As ações da ENTREMOVERES fazem parte do levante nacional Trovoa, gerado por mulheres não-brancas racializadas, em sua maioria por descender de África e dos povos originários do Brasil. A iniciativa foi idealizada por um coletivo de artistas e curadoras cariocas – o Trovoa, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (RJ), e se espalhou para o Brasil contabilizando hoje uma série de ações em várias cidades do país, a exemplo de Marabá (PA), Fortaleza (CE) Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Paulo (SP) e Vitória (ES).

Pernambuco aderiu ao movimento e, por aqui, a ENTREMOVERES reúne mais de 40 moradoras e coletivos artísticos do centro e dos subúrbios da região metropolitana do Recife, a exemplo do coletivo Encruzilhada, do coletivo Amarna e do CARNE coletivo de arte negra, do Agreste e do Sertão de Pernambuco, além de artistas que vivem em outras cidades do Brasil. Apresenta até o seu encerramento, no dia 4 de agosto, trabalhos de Aline Sales (Camaragibe – PE), Amanda Souza, Ana Lira (Recife – PE), Anne Souza, Ariana Nuala (Recife – PE), Gabi Cavalcanti (Arcoverde – PE), Biarritzzz, Deba Tacana, Erzulie Timboiá, Gi Vatroi, Ianah, Juma Gitirana (SP/PE), Kalor (Camaragibe – PE), Karla Fagundes, Kildery Iara, Letícia Barros, Lia Letícia (RS/PE), Liz Santos (Surubim), Magú, Mariana de Matos (SP/PE), Mitsy Queiroz, Nathê Ferreira (Jaboatão dos Guararapes – PE), Nena Callejera, Polly Souza (Olinda – PE), Priscilla Buhr, Priscila Ferraz (Jaboatão dos Guararapes – PE), Priscilla Melo (Recife – PE), Preta Afoita, Rebeca Gondim (Recife – PE) e Mun-Ha.

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Artistas particioantes da Entremoveres seguram placas com nome das demais artistas da mostra. Foto: Abiniel Nascimento.

Desde a abertura da ENTREMOVERES, no dia 4 de maio, também foram apresentadas performances, instalações artísticas, comércio autônomo ambulante e atividades formativas no Museu da Abolição (MAB/Ibram) e no Museu Murilo La Greca (FCCR), a exemplo da oficina de Introdução ao Pensamento Decolonial, ministrada por Rodrigo Lopes (CE), todas geridas de modo autônomo pelas próprias artistas participantes da Entremoveres.

SERVIÇO:
Programação de Junho da ENTREMOVERES – Mostra Trovoa em Pernambuco. Gratuito. Museu da Abolição (R. Benfica, 1150, Madalena). Até 4 de agosto. Visitação de segunda à sexta, das 9h às 17h, e aos sábados das 13h às 17h. Informações: (81) 991387984

ARTE DE RUA (painel coletivo com 18 artistas)
A partir das 10h do próximo sábado, 15 de junho, no muro externo do Museu da Abolição – lado da Praça João Alfredo)

CORPAS NO MUNDO (roda de diálogo com Monique (BA), Negamburguer (SP) e Lia Letícia (RS/PE), mediação de Nathê (PE).
Terça-feira, 18 de junho, 19h, no auditório do Museu da Abolição.

Escrito por:

Kalor Pacheco

kalorpacheco@gmail.com

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