Candomblecistas são vítimas de intolerância religiosa em Olinda

Lenne Ferreira | Imagem: Reprodução Instagram

Na noite da última quarta-feira (20), as musicistas e praticantes do Candomblé, Alice Ialodê e Jessica Acioly foram vítimas de intolerância religiosa em Olinda. As duas faziam compras no Supermercado Mix Mateus, no bairro de Casa Caiada, quando foram surpreendidas por insultos proferidos por um desconhecido, que logo após atirou uma pedra contra o carro onde estavam.

De acordo com o relato divulgado nas redes sociais das vitimas, que fazem parte do Ilê Axé Oxum Karé, liderado pela ialorixá e patrimônio vivo de Pernambuco, Mãe Beth de Oxum, elas estavam na lanchonete do Supermercado quando ocorreu a primeira manifestação de intolerância.

“A gente estava comendo e conversando quando essa mulher chegou atrapalhando e pregando (o evangelho cristão) e dizendo que a gente teria que estar de meio dia na Igreja Universal da Cruz Cabugá sendo que a gente nem sabia quem ela era”, contou Ialodê.

A intimidação inicial ocorreu na área interna do supermercado. Depois de mais de 20 minutos da saída da mulher, quando Ialodê e Jessica pagaram as compras e se dirigiram para o estacionamento, a mulher continuava lá já na companhia de um rapaz, que passou a insultar as duas. “Ele começou a chamar a gente de macumbeira e dizer que a gente servia ao demônio”, conta Jéssica. As duas candomblecistas estavam de preceito religioso e vestiam roupas brancas e turbante.

Ao se desvencilharem da situação saindo do local, ao parar no sinal em frente ao Supermercado, o carro em que estavam foi atingido por uma pedrada. “Eu ouvi um som muito forte e os estilhaços da pedra que bateram no vidro, que não quebrou. Foi livramento dos orixás”, acreditam elas, que vão formalizar uma denúncia na polícia por intolerância religiosa.

As religiões de matriz africana são o alvo constante de preconceito. Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos, só em 2022 foram 1.200 ataques – um aumento de 45% em relação a 2020. Em janeiro de 2023, o presidente Luiz sancionou uma lei que equipara o crime de injuria racial ao crime de racismo, também protege a liberdade religiosa. A lei, agora, prevê pena de 2 a 5 anos para quem obstar, impedir ou empregar violência contra quaisquer manifestações ou práticas religiosas. A pena será aumentada a metade se o crime for cometido por duas ou mais pessoas, além de pagamento de multa. Antes, a lei previa pena de 1 a 3 anos de reclusão.

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Lenne Ferreira

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