Afoitas é finalista em premiação que reconhece relevância da mídia negra independente

Reconhecimento nasce com o objetivo de valorizar a atuação de profissionais negros do âmbito da comunicação; 134 jornalistas do Brasil estão classificados para a fase final

Imagem: Jezz Maia

O portal Afoitas e a editora Lenne Ferreira estão na lista dos finalistas da premiação +Admirados/as Jornalistas Negros e Negras da Imprensa 2023. Criada com o objetivo de reconhecer os profissionais e os veículos que se destacam no exercício do jornalismo alinhado com a luta antirracista, o projeto é uma idealização do Jornalismo&Cia  em parceria com 1 Papo Reto, Neo Mundo e Rede JP e conta com o patrocínio da Unilver, apoio da Unibes Cultural e apoio Institucional de ABI, Conajira/Fenaj e Rede Mar.  A ação pela Diversidade, Equidade e Inclusão foi criado para fomentar maior diversidade nas redações e, consequentemente, nas pautas e fontes presentes no cotidiano da atividade editorial.

Em sua edição de estreia, foram 134 jornalistas classificados para a fase final, sendo 118 de redação e 16 de imagem, e 41 veículos, entre publicações de cobertura geral e plataformas comandadas por profissionais negros(as). Para chegar aos 118 jornalistas classificados, foram indicados um total de 347 profissionais. Entre os finalistas, a predominância foi das mulheres, com 73 classificadas, e o Sudeste foi a região com maior número de representantes, 83, seguido de Centro-Oeste (13), Nordeste (11), Sul (6) e Norte (1). Já entre os profissionais de imagem, foram 107 indicações para chegar aos 16 mais classificados. Na eleição dos veículos, foram lembradas 194 publicações diferentes somadas as duas categorias.

Para o segundo turno, que começou no último dia 21 de setembro e segue até 5 de outubro, as/os eleitores/as poderão indicar entre os finalistas os profissionais e veículos de sua preferência, do 1º ao 5º lugar. O link para votação está disponível no Portal dos Jornalistas. Cada posição renderá uma pontuação para o selecionado, sendo 100 pontos para o 1º colocado, 80 para o 2º, 65 para o 3º, 55 para o 4º e 50 pontos para o 5º indicado. A partir da somatória dos pontos serão definidos os homenageados na cerimônia de premiação, marcada para o dia 13 de novembro, no Unibes Cultural, em São Paulo.

Durante a cerimônia, além dos reconhecimentos aos Top 50 jornalistas e aos mais votados nas demais categorias, haverá ainda três homenagens especiais: Decano do Jornalismo – Troféu Luiz GamaRevelação do Ano – Troféu Tim Lopes e Personalidade do Ano – Troféu Glória Maria.

A iniciativa compõe uma série de ações que resultaram do diagnóstico Perfil Racial da Imprensa Brasileira, lançado em 2021, que identificou a baixa representatividade de profissionais negros nas redações brasileiras. A premiação se tornou possível a partir da união de forças com outras três plataformas que se mobilizaram pela causa: Rede JP (Rede de Jornalistas pela Diversidade na Comunicação) e os sites 1 Papo Reto, plataforma colaborativa sobre ESG, diversidade e empreendedorismo, e o portal Neo Mondo, especializado em sustentabilidade e desenvolvimento de forma ética e responsável.

“Este prêmio é uma iniciativa de extrema importância pois ela não apenas reconhece o talento e a excelência de jornalistas negros e negras, mas também destaca o papel crucial que desempenham na indústria jornalística”, ressalta Marcelle Chagas, coordenadora da Rede JP. “Pela Rede JP ser composta em sua maioria por mulheres negras, estamos focados em desempenhar um papel fundamental na garantia da representatividade e diversidade nas equipes de jornalismo e na narrativa das histórias que moldam nossa compreensão do mundo. Este prêmio desempenha um papel fundamental na quebra de barreiras, na promoção da diversidade e na valorização do talento jornalístico negro. Ele contribui para uma indústria mais inclusiva, representativa e rica em perspectivas, refletindo a sociedade diversificada que servimos”.

Para Oscar Publisher, editor do portal  Neo Mondo, um dos idealizadores do Prêmio, a iniciativa representa mais do que uma celebração de conquistas individuais. “Ela carrega consigo um significado simbólico que transcende o mundo do jornalismo e alcança o cerne da luta por igualdade e justiça racial”, pontua ele. Para o jornlista, em um contexto onde o racismo sistêmico permeia todos os aspectos da sociedade, incluindo a mídia, a consideração e a celebração de jornalistas negros(as) e mídias negras é uma forma poderosa de desafiar e questionar o status quo. “Essa premiação não apenas destaca o talento e a dedicação desses profissionais, mas também confronta a narrativa dominante que muitas vezes marginaliza as vozes e perspectivas da comunidade negra”, defende.

Jornalista, cofundador do Instituto FALA e fundador e editor do site de notícias 1 Papo Reto, Rosenildo Ferreira ressalta que o Prêmio + Admirados Jornalistas Negros e Negras do Brasil tem a função de “colocar na vitrine muitos profissionais que, por vezes, mesmo atuando na imprensa, estão invisibilizados”. “Não por uma questão ligada ao preconceito, mas pela natureza de seu trabalho. Aqui, falo especificamente de radialistas, repórteres-fotográficos, radialistas e os profissionais da mídia impressa que, ao contrário da TV, quase nunca têm a imagem veiculada. Neste contexto, acredito ser importante que seus rostos sejam conhecidos do grande público. Até porque, o racismo estrutural tratou de criar mecanismos imagéticos de lugares e papéis destinados aos não-brancos. Ao dar visibilidade a este contingente, podemos colaborar para uma espécie de quebra de paradigma”, defende o jornalista.

Na posição de cidadão negro e profissional de imprensa, Rosenildo ressata que foi muito favorável às efemérides. Mas,  a partir do diálogo com militantes históricos da nova geração sobre esforço que foi feito para a construção do Novembro Negro, considerou ajudar na construção do Prêmio. “Foi a partir desta premissa que topei o desafio feito pelo jornalista Edu Ribeiro, fundador do Jornalistas&Cia, de ajudar na concepção e realização deste prêmio. Trazer para os holofotes nacionais as mídias periféricas e independentes é vital para o rejuvenescimento do segmento de comunicação”.

Edu Ribeiro, editor do Jornalistas&Cia, acredita que  a premiação é um instrumento importante para que a “sociedade continuar a avançar na luta antirracista, sobretudo no combate ao racismo estrutural, que nos pega a cada esquina”. Considerando que os jornalistas e a mídia desempenham papeis estratégicos na luta por igualdade, o prêmio reforça esse potencial. “Um prêmio dessa natureza busca, em sua gênese, estimular a diversidade no jornalismo, abrindo caminho quantitativo e qualitativo tanto nas redações, quanto nas pautas, nas fontes e nas abordagens jornalísticas”, pontua.

“As mídias independentes são as novas árvores dessa floresta editorial e a cada dia conquistam novos espaços e audiências. Penso que elas já não são mais o futuro. Elas são o presente e já estão na nossa vida e impactando os processos sociais. A sustentabilidade é o desafio comum a todos e todas e a visibilidade é fundamental para atrair recursos, sejam pelas vias da publicidade, apoios institucionais, assinaturas e mesmo colaborações voluntárias”. Ele completa informando que o prêmio tem como objetivos primordias reconhecer, valorizar, criar uma vitrine dentro da própria comunidade jornalística (ainda majoritariamente branca) e estimular o jornalismo plural, diverso, talentoso, criativo e de qualidade.

Em Pernambuco, além da Afoitas e da editora Lenne Ferreira, também estão na lista nomes como a jornalista Fabiana Moraes, professora da Universidade Federal de Pernambuco, colunista do The Intercep, conselheira da Agência Pública,  Perifa Connection, e jornalista e influencer  Pedro Lins, que foi âncora do Telejornal NETV, da Rede Globo Nordeste.

 

Escrito por:

Lenne Ferreira

lenneferreira.pe@gmail.com

 @lenneferreira