Recife é a capital com o maior número de eleitores que declararam já ter votado em pessoas negras

Texto: Giovanna Carneiro | Fotos: Fran Silva
Com o objetivo de compreender a participação da população nos processos de escolha dos representantes políticos nas eleições de 2022, o Enegrecer a Política realizou a pesquisa “Como vota o eleitorado no Norte e Nordeste”. O dossiê contrapõe a invisibilidade histórica de produção de narrativas sobre a participação negra na política e apresenta as motivações, argumentos e causas que direcionam as decisões políticas do eleitorado das cidades de Belém, Fortaleza e Recife.
A coleta e análise dos dados da pesquisa ocorreram entre os meses de julho e setembro de 2022. No processo, foram aplicados 300 questionários e 31 entrevistas a partir de grupos focais formados nas três cidades do Norte-Nordeste mencionadas anteriormente. Este é o terceiro dossiê lançado pelo Enegrecer a Política, os outros dois foram realizados em 2020 e 2021, analisando as eleições de 2016 e 2020.
Os dados das eleições de 2022, divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) demonstram que o número de candidaturas negras eleitas apresentou uma crescente de 11,4%. Porém, o cenário político democrático está longe de refletir a realidade social, uma vez que a população negra é a maior do país e apenas 32,12% de pessoas negras conseguiram se eleger.
“A gente comprovou na pesquisa, a partir de um recorte, de uma mostra, que as pessoas negras votam, sim, em pessoas negras. O que acontece na maioria dos casos é o desconhecimento das candidaturas. Mas há um desejo, há um interesse em votar em pessoas negras. Mas essas candidaturas ainda são muito invisibilizadas por causa dos investimentos dos partidos nessas candidaturas, ou pela própria correlação de forças, que tornam essas pessoas ainda mais invisíveis”, ressaltou Marília Gomes, co-fundadora do Observatório Feminista do Nordeste e coordenadora de pesquisa do Enegrecer a Política.
Dados do dossiê
A pesquisa revelou que o desconhecimento das candidaturas negras é o principal motivo para as pessoas não voltarem nestas candidaturas. Apesar disso, o voto em candidaturas negras é responsável por promover um voto extremamente qualificado.
De acordo com o dossiê, a falta de conhecimento das candidaturas negras é consequência da falta de investimento para concorrer em pé de igualdade com as demais. De acordo com a Educafro, em 2022, os partidos repassaram menos recursos a candidatas negras, estas receberam 41,8% das verbas mesmo estando em maior número, enquanto as não negras receberam uma parcela bem maior, de 58,2%.
Entre as motivações para votar em pessoas negras, no Recife, 48% do público apontou que se baseia na pauta política dos candidatos e candidatas, 27% prioriza a trajetória dos representantes políticos e 26% analisa a agenda de campanha. Em Fortaleza, entre as motivações para votar em pessoas negras, 51% do eleitorado apontou a trajetória política, 48% a pauta política defendida pela candidatura e 26% o partido a que estavam filiadas. Em Belém, 66% considerou a pauta política, 42% o partido e 29% a trajetória política.
Perguntadas sobre os motivos para terem votado em candidaturas negras, 39% do eleitorado de Fortaleza e Recife afirmou que a confiança nos candidatos e candidatas foi decisivo. Em Belém, 44% destacou o alinhamento com as pautas políticas em defesa dos Direitos Humanos.

Mandata coletiva Pretas Juntas, vereadoras do Recife. Crédito: Reprodução / Instagram
A parcela do eleitorado que já votou em pessoas negras é maior no Recife, com 69% dos entrevistados. Em seguida está Fortaleza com 60%, e por último Belém com 47%. Recife também lidera entre a parcela do eleitorado que já votou em mulheres negras com 56%. Belém tem 39% do eleitorado que já votou em mulheres negras e Fortaleza tem 33%.
“Observamos em nossa pesquisa a falta de identificação do eleitorado com os políticos como causadora de um desinteresse pelo voto. Por outro lado, a motivação para votar está aliada a imagem e atributos pessoais, o que faz com que muitas vezes haja incoerências ideológicas, votos em partidos de direita, quando se desejam pautas que a esquerda defende e até mesmo voto na esquerda para o cenário nacional e voto na direita para o cenário local”, declarou a iniciativa Enegrecer Política.
Além de levantar dados e mapear candidaturas negras comprometidas com os direitos humanos e com as lutas populares, o Enegrecer a Política promove debates e circula informações sobre a importância do voto em pessoas negras e participa de espaços de fortalecimento da luta pela visibilidade de candidaturas negras, fortalecendo uma rede antirracista. A iniciativa é coordenada por 6 organizações da sociedade civil: Bigu Comunicativismo, Blogueiras Negras, Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade (MMCC), Mulheres Negras Decidem (MND), Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (Renfa) e Observatório Feminista do Nordeste (OFNE).
Com informações da Assessoria de Imprensa