Pajubá Tech: iniciativa promove inserção de pessoas trans na Tecnologia

Segundo um levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o setor deve demandar 797 mil talentos de tecnologia até 2025
Texto: Maya Santos | Foto: Cortesia
Quando falamos de tecnologia, automaticamente associamos a inovação e o futuro. Considerado um mercado aquecido, as oportunidades no setor, segundo um levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), devem demandar 797 mil talentos de tecnologia até 2025.
Entendendo essa realidade, a Desenvolvedora FullStack, Luana Maria da Luz Barbosa, 22 anos, fundou o empreendimento social: Pajubá Tech, uma iniciativa que promove a formação e qualificação profissional com a finalidade de incluir a população trans e travestis no mercado de tecnologia. Através desse movimento, que extrapola as expectativas condicionadas as vidas das pessoas trans e travestis, a Pajubá Tech cria “novas narrativas para e viabilizar novas possibilidades para o futuro, para a juventude transsexuais e travesti nordestina”.
Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), estima-se que 90% da população trans no Brasil tem a prostituição como fonte de renda e única possibilidade de subsistência. No entanto, a iniciativa tem a proposta de subverter essa lógica que predestina a vida da população trans.
“Através do ensino de linguagens de programação, mentorias, criação de projetos em TI, direcionamento de vagas de empregos, dicas de carreira como preparação de currículo e utilização do LinkedIn como ferramenta de possibilidades. Buscamos transformar a realidade da população trans especialmente em Pernambuco, onde a discriminação e a violência são ainda mais prevalentes em 2022 pela primeira vez o estado ocupa o ranking em primeiro lugar que mais matou pessoas trans e travestis no Brasil”, explica a fundadora da Pajubá Tech.
“Nossa [iniciativa] é importante para enfrentar as violações de direitos humanos contra a população LGBTQIA+. Queremos promover inclusão e a diversidade que são temas importantes a ser discutido no mercado de tecnologia, um setor no qual a discriminação e a exclusão ainda são muito presentes”.
ATUAÇÃO PARA ALÉM DO INDIVÍDUO
Em entrevista, Luana explica que a empresa vai além da capacitação da juventude, pois também estabelece diálogo regular com empresas que pretendem contratar pessoas trans e travestis, sendo uma ponte para seus estudantes acessarem as oportunidades de emprego. “Por meio desses diálogos, a organização busca contribuir para a criação de ambientes de trabalho mais inclusivos e diversos, garantindo igualdade de oportunidades para todas/os as/os trabalhadoras/es”, pontua.

Luana (lado direito) foi a primeira travesti a receber o prêmio Semeadores das Polícias Públicas (Foto: Hélia Scheppa/PCR)
Na área, observamos uma reorientação da bússola, – fruto de iniciativas como essas – que combatem a essa realidade, como empresas que estão adotando em sua política as chamadas “vagas afirmativas”, que absorvem ao quadro de funcionários profissionais que compõem o grupo da população LGBTQIA+.
“O site de recrutamento Gupy tem aberto vagas afirmativas para pessoas trans, ao analisar as vagas afirmativas destinadas a pessoas da comunidade LGBTQIAP+ de maneira geral, as vagas destinadas a pessoas trans e travestis representam 16% do total de oportunidades direcionadas para a comunidade, de acordo com uma pesquisa feita pela plataforma em 2022”, explica.
IMPACTO SOCIAL E INSPIRAÇÃO
Nascida e criada no Ibura, bairro localizado na Zona Sul do Recife, Luana tem sua trajetória marcada pela luta contra as violações dos direitos humanos da população LGBTQIA+, com ênfase em pessoas trans e travestis, desde sua adolescência. Hoje, os caminhos percorridos por ela aos poucos a tornaram uma forte referência, resultando em premiação.

(Foto: Hélia Scheppa/PCR)
“Eu recebi o prêmio Semeadores das Polícias Públicas, da [Secretaria da] Juventude do Recife, na Categoria Jovem. E dentre as duas edições, só na terceira nós temos a primeira travesti sendo premiada”, destacou.
“Somos [mulheres trans e travestis] poucas líderes, por exemplo. E esse reconhecimento da Prefeitura da Cidade do Recife, diz a respeito da minha contribuição para efetivar as políticas públicas de juventude da cidade do Recife. E esse prêmio reconhece toda trajetória que desde 2017 atuando em vários segmentos, seja segmentos sociais ou dentro da academia, contribuindo de fato com que os direitos sejam efetivados”, explicou.
“Esse reconhecimento parte muito desse local também de encontro à liderança, que fundou a organização e que tão nova está ganhando espaço. Principalmente por tá ali contribuindo com o fortalecimento da Juventude LGBTQIA+”, enfatizou.
CORPAS TRANS QUE OCUPAM
No setor da tecnologia surge um questionamento: “Quais são os corpos que ocupam os cargos na área de tecnologia?”, indaga Luana, que também explica que somente através da incidência política é possível transcender os obstáculos sociais para implementar a diversidade na prática.
Entre as conquistas da Pajubá, ela destaca a inclusão de pessoas trans de forma gratuita no The Developer’s Conference (TDC), o maior evento de tecnologia da América Latina. “Nós tivemos parceria com a Iara, então ela nos disponibilizou de forma gratuita e assim conseguimos garantir que as pessoas estejam dentro desses espaços, que geralmente são lugares que são muito elitizados e nem todo mundo tem acesso porque são eventos pagos e é também no centro da cidade”.

Pajubá Tech (Foto: Cortesia)
Ainda reforça que ações parcerias como essas abrem portas para “transformar a área da tecnologia mais responsável e mais inclusiva” e tornar mais democrática o direito ao conhecimento, além de ser uma ponte para networking. Agora, a corrida é pela autonomia dos processos educacionais do empreendimento.
“Estamos atrás do recurso para poder fazer a nossa formação autônoma. E é por isso também que essa é uma das dificuldades de ser uma organização não governamental é um coletivo. Conseguir recursos para poder manter nossos projetos”. Mas, mesmo com essa barreira, “ nós conseguimos a realizar ações impactando vidas e transformando”.