Ona Omi – Caminhos das Águas estreia no Teatro Arraial

Espetáculo, que percorre o caminho de construção da diáspora negra tendo a água como elemento condutor, ganha temporada durante o mês de novembro 

ONA

Crédito: Divulgação

Mar, suor, sangue, navio negreiro, diáspora, ruptura de vidas, de famílias, de nações conduzidas pela água. A árvore ancestral, a terra do antes e a experiência de deparar-se com a catástrofe da colonização. Resistência conduzida mar afora que nos separou do berço, da mãe de nossa humanidade, África. As chegadas desses corpos em outras terras, mais especificamente no Brasil, fazem parte da dramaturgia do espetáculo Ona Omi – Caminho das Águas, que marca o retorno da Cia de Dança Daruê Malungo, estreia nesta sexta-feira (27), no Teatro Arraial, onde faz temporada durante o mês de novembro.

A Companhia, fundada em 2001, é composta por bailarinos e músicos ex-alunos do Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo. Atualmente, o Daruê possui dois elencos, um deles, foi formado para criação do espetáculo Ona Omi, a partir de uma audição para bailarinos da comunidade de Chão de Estrelas – local que abriga a sede do Centro. Numa segunda etapa, bailarinos de toda a cidade do Recife também puderam participar da audição, o que fomentou um elenco de diversos corpos e experiências.

“Ona Omi estreia no Recife, na 27° Semana Afro Daruê Malungo, ainda como cena em processo, trazendo para o palco uma nova perspectiva da Dança Afro. Em cena, corpos que não transitam entre saídas e entradas de coreografias mas, sim, permanecem a todo momento na cena em estado de performance, explica o diretor da companhia e do espetáculo, Orun Santana, que teve como desafio trazer à tona a história do Daruê Malungo para esses novos corpos, novas estruturas, novos olhares, pensamentos e experiências, entrelaçando seu próprio trajeto atual, não só como bailarino de dança afro, mas também como bailarino contemporâneo.

 

A bailarina, atriz e performer recifense, Janaína Gomes, também assina a direção do espetáculo, marcando o protagonismo da atuação da mulher negra na Dança Afro e Contemporânea. À diretora, coube as sinuosidades de uma dramaturgia e de elementos contemporâneos que levaram os intérpretes para reflexões sobre suas trajetórias, seus caminhos, suas águas e, principalmente, para pensar sobre quem são seus opressores e colonizadores de hoje. Afinal, a quem e ao que resistimos na contemporaneidade? “A dramaturgia do espetáculo é composta por elementos que associam elementos e contextos de diáspora, incorporados e friccionados com as histórias, sensações e imaginários dos intérpretes”, nos diz Janaína Gomes.

A direção musical é assinada pela percussionista Aishá Lourenço, que compôs ambiências sonoras instigantes que potencializam as particularidades dos intérpretes e seus movimentos de cena, assim como também, o que os une enquanto coletivo que dança uma ode às águas. A música traz também como marca, elementos digitais e percussivos.

O figurino, idealizado por Biam Dhifá, está intrinsecamente ligado à dramaturgia do espetáculo. Se configurou de maneira minimalista marcando corpos e deixando a africanidade exposta a partir dos cabelos dos dançarinos que estão ornados com a estética da trança nagô.

Por fim, o espetáculo “Ona Omi – Caminho das águas” reflete sobre questões socioculturais da diáspora africana no Brasil desde a nossa chegada até os dias atuais e das relações estabelecidas com a água que nos trouxe D´África, nos renovou, nos alimentou, nos enfraqueceu, nos separou, nos levou para longe da mãe, mas ao mesmo tempo nos apontou caminhos para o agora, para o presente. Onde estamos hoje?

Sobre o elemento água

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Assim como em várias religiões, o candomblé, religião de matriz africana, entende a água como símbolo da origem da vida, da fecundidade, da fertilidade, da transformação, da purificação, da força e da limpeza. Elemento primordial, ela é considerada o ponto de partida para o surgimento da vida, além de ser elemento condutor, com o poder de acumular, absorver ou descarregar qualquer vibração, seja ela para o bem ou para o mal. Para além da relação com a trajetória do povo negro, se tem como referência as orixás que estão diretamente relacionadas com o elemento água e com a energia feminina: Iemanjá, Oxum e Nanã.

Sobre a Cia de Dança Daruê Malungo
Fundada em 2001, a Cia de Dança Daruê Malungo teve como primeiro espetáculo “No jogo da dança”, que fez temporada no Armazém 14 e participou de diversos festivais tais como:: Festival de Dança do Recife, Na onda da Dança (SESC Piedade), Pernambuco em Dança, Festival de Inverno de Garanhuns e Janeiro de Grandes Espetáculos, recebendo indicações e prêmios ao longo de várias edições. A Companhia também representou o Brasil internacionalmente na Alemanha e Holanda, no Dunya Festival, em intercâmbio com o maracatu Brasil Colônia, em 2004..

Ficha técnica:
Direção da Cia. De dança Daruê Malungo Orun Santana e Vilma Carijós
Direção artística: Janaína Gomes e Orun Santana
Dramaturgia: Janaína Gomes
Direção musical: Aishá Lourenço
Percussionistas: Aishá Lourenço, Dayanne Silva e Gabriela Barros
Figurino e cenografia: Biam Dhifá
Intérpretes criadores: Adelmo do Vale, Ana Paula Oliveira, Dan Oliveira, Flávio Conceição, Guilherme Cardoso, Jair Simão, Klarissa Faye, Larissa Bonfim, Maria Miranda, Marina Mahmood.

SERVIÇO
Espetáculo Ona-Omi – O Caminho das Águas
De 27/10 a 18/11; sextas-feiras e sábados, às 20h
Teatro Arraial Ariano Suassuna (R. da Aurora, 457 – Boa Vista, Recife – PE)
R$ 20 (inteira) | R$ 10 (meia-entrada)
Classificação Indicativa: Livre

Escrito por:

Afoitas Jornalismo

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