‘Ocupação Lia de Itamaracá’ debate racismo na Cultura Popular

O encontro também será marcado pelo lançamento do catálogo da exposição que aborda a vida e obra da cirandeira que é patrimônio imaterial
Foto: Ytallo Barreto | Divulgação
A ocupação Lia de Itamaracá, – que exalta a trajetória da cirandeira e uma das mais importantes mestras da cultura popular brasileira -, está em seus últimos dias de cartaz e promoverá, nesta quarta-feira (14), uma roda de diálogo com o tema “O Racismo na Cultura Popular – Reflexões e Proposições”. O debate acontece às 15h, no Paço do Frevo. Os interessados devem se inscrever por meio do formulário disponível online.
Na ocasião, acontecerá também o lançamento do catálogo da exposição, que será distribuído gratuitamente ao público presente na atividade desta quarta-feira. A roda de diálogo contará com as presenças de de Lia de Itamaracá; do seu produtor e empresário, Beto Hees; da professora doutora e ialorixá Mãe Denise Botelho; de Fabiano Santos, presidente da União dos Afoxés de PE e do Afoxé Alafin Oyó, membro da comissão de Cultura da OAB; Lenne Ferreira, jornalista e produtora cultural; e Geisa Agrício, gerente de Desenvolvimento Institucional do Paço do Frevo. A mediação será de Michelle de Assumpção, curadora da Ocupação Lia de Itamaracá e autora de sua biografia.
“Eu sempre encarei de frente o racismo, ele sempre existiu, mas eu nunca baixei minha cabeça. E é o que digo a todas que enfrentam esse problema: seja mais você, se fortaleça e encare”, declarou Lia de Itamaracá, que chegou a tratar do assunto em entrevistas que foram levadas à mostra presente no Paço do Frevo.
Michelle Assumpção refletiu sobre a importância de debater o racismo que também esteve presente na trajetória artística de Lia de Itamaracá. “O racismo que Lia enfrentou ao longo da vida também é um tema esmiuçado na Ocupação Lia de Itamaracá – Paço do Frevo. Práticas racistas explícitas, por exemplo, permeiam em um recorte de jornal de 1973, que descreve pela 1ª vez a existência de Lia de Itamaracá, até então conhecida em todo país como personagem de uma famosa ciranda, intitulada ‘Quem me deu foi Lia’, lançada na voz de Teca Calazans, em 1969. ‘Escurinha’, ‘boneca de piche’ e ‘empregadinha’ são alguns dos adjetivos utilizados pelo jornalista que escreve a matéria, revelando a naturalização do racismo que hoje configura crime”, concluiu a curadora.
Nesta quarta-feira, também vai ao ar o sexto e último episódio da série “Quem me deu foi Lia”, disponível no Youtube do Paço do Frevo. A série em vídeo conta com diversos depoimentos de mulheres que referenciam e são também referência para Lia de Itamaracá. O último episódio tem a participação de Dona Onete, rainha do Carimbó chamegado e grande nome da cultura paraense.
A exposição e o catálogo
Iniciada no dia 21 de março de 2023, a ‘Ocupação Lia de Itamaracá – Paço do Frevo’, que já foi visitada por cerca de 30 mil pessoas, segue em cartaz até o dia 21 de junho. A exposição é um tributo e um reconhecimento à trajetória da artista cuja vida e obra vêm seduzindo gerações e fortalecendo a identidade do povo pernambucano a partir da Ciranda e de outros gêneros da cultura popular. A ocupação traz documentos, figurinos, objetos pessoais, fotografias, mobiliários e diversos recursos audiovisuais, como videoclipes e imagens recentes de apresentações de Lia pelo mundo.
A exposição tem a realização do Paço do Frevo e do Centro Cultural Estrela de Lia, com apoio do Itaú Cultural. A visita ao acervo, presente no Paço do Frevo, custa R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), com gratuidade às terças-feiras.
Lançado nesta quarta-feira, 14 de junho, o catálogo da exposição é composto por fotos do espaço expositivo e por retratos da artista feitos pelo fotógrafo Ytallo Barreto, que tem acompanhado de perto a trajetória de Lia. Traz ainda uma série de textos sobre a cirandeira, não apenas celebrando um importante momento da sua carreira, mas constituindo uma memória de sua longeva e fascinante história de vida e obra. O material foi construído a partir dos eixos que nortearam a própria Ocupação, que compreendem o Território, a Casa, a Raça e a Trajetória de Lia de Itamaracá.