Articulação feminista movendo mulheres nas periferias

Conheça a Articulação do Movimento das Mulheres de Bairro, uma rede que aproxima  vivências de mulheres da periferia recifense 

Fotos: Obirin Negra
Texto: Eduarda Nunes

Aquilombamento para o fortalecimento de redes femininas. É nessa direção que a Articulação do Movimento das Mulheres de Bairro caminha desde 2012. Do desejo coletivo de mulheres do Recife de contribuir com organizações que estavam vivendo um processo desmobilização. Composta por 11 entidades, a articulação é coordenada pelos grupos Cidadania Feminina, Espaço Mulher e o CEPAS, que assumiram o desafio de percorrer os bairros conhecendo e aproximando mulheres em seus territórios. Elas estiveram reunidas esse mês durante o seminário “Organização e Desafio das Mulheres na Periferia da Cidade”.

Nesses sete anos de existência já aconteceram três encontros do Mulheres de Bairro. O seminário, realizado nos últimos dias 9 e 10 de maio, também foi acompanhado pela oficina “Mulher e Liderança”, que teve como objetivo aguçar o potencial das participantes e formá-las sobre o papel de base que desempenham em seus bairros. O evento aconteceu em parceria com a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e também contou com apoio da University College London (UCL) e do Fundo Baobá. Previdência pública, a conjuntura política atual, o racismo no Brasil e também na Inglaterra foram alguns dos temas discutidos entre as mulheres durante os dois dias de encontro.


Para além do seminário, o objetivo da Articulação é empoderar as mulheres em seus territórios para dialogar sobre suas lutas, dores e conquistas, além de estimular a fala pública e a participação nos demais movimentos sociais em que elas também podem se dedicar para o bem estar da vida de todas as mulheres, em especial para aquelas que vivenciam os desafios de ser pobre e negra. A articulação avalia que a atual gestão municipal contribuiu para a desmobilização da articulação uma vez que se distanciou das demandas de bairros mais populares.

A expectativa da articulação é ampliar sua atuação. Atualmente, elas alcançam 20 bairros na Região Metropolitana do Recife e querem mais. O seminário foi um exemplo da potencialidade que a rede ainda tem para explorar. Para o encontro, por exemplo, esperava-se a participação de 50 mulheres, e, durante os dois dias de atividades, mais de 70 participaram das atividades. “Isso mostra que as mulheres estão se organizando”, comemora Vânia Dantas, do Espaço Mulher. A falta de recurso financeiro, no entanto, ainda é representa a maior dificuldade para realização de atividades regulares, mas não tira o ânimo das articuladoras: “O desafio faz parte da vida da gente”, comenta Liliana Barros, do Cidadania Feminina. O Fórum de Mulheres de Pernambuco e a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco são movimentos que fortalecem mais ativamente as mulheres de bairro.

Organizações como a Articulação do Movimento das Mulheres de Bairro ilustram bem a necessidade e importância do trabalho de base nas periferias. As mulheres têm sido a força motriz do desenvolvimento real do Brasil. São as mulheres que tocam a administração doméstica, o cuidado com as crianças, os doentes e os idosos à parte de suas vidas profissionais. Foram as que primeiro disseram não à ascenção do facismo em 2018.

Ter mulheres de periferias cientes e fortalecidas sobre essa conjuntura é um trunfo e estímulo à manutenção desses grupos é uma forma de adubar a terra para que possamos colher bons frutos mais à frente, um País com menos desigualdade. Em tempos como o que estamos vivendo, é bom saber que nem tudo está perdido.

Quer conhecer mais e acompanhar as ações da Articulação?
Instagram: @mulheresdebairrorec
Facebook: Articulação do Movimento de Mulheres de Bairro

Maria Eduarda é afoita, jornalista, integrante da Rede de Mulheres negras de Pernambuco e do Coletivo Afronte)

Escrito por:

Afoitas Jornalismo

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