Mostra em cartaz no Museu da Abolição relaciona arte e saúde mental

Texto: Lenne Ferreira | Imagem: Arte/Xinga
Reconhecida mundialmente por humanizar as práticas de cuidado em saúde mental, os estudos da nordestina Nise da Silveira inspirou a concepção da mostra “Além dos Muros”, que reúne trabalhos em linguagem visual de mais de 40 artistas. Com curadoria e produção de Rebecca França, a mostra é uma realização do projeto Kalunga em parceria com o Leilão do Beco, e fica em está em cartaz no Museu da Abolição até este sábado (8). No domingo (9), as obras serão leiloadas virtualmente com transmissão pelo YouTube, a partir das 14h.
“Essas pessoas brilhantes embarcaram na experiência de refletir sobre saúde mental, política antimanicomial e liberdade de expressão. Refletiram sobre os muros que cercam nossa existência e aprisionam nossa forma de amar, pensar, criar e pintar, sobre o que transporta as ideias, sensações, sentimentos e bandeiras política para além das convenções e conveniências”, pontua a Rebecca.
Ela explica que buscou ouvir artistas que tem a comunicar. “Como educadora e um ser politico no mundo, existem alguns temas que eu gostaria de curar, de apresentar e destrinchar. No caso de Além do Muros, foi a questão da saúde mental, da política antimanicomial, do que estamos lidando desde a pandemia, os adoecimentos e as formas de se curar”, explica. A mostra também foi construída a partir de um laboratório realizado no Museu de Arte Moderna, onde Rebecca compõe o corpo curatorial.
Para ampliar o alcance e venda das obras dos/as artistas será realizado um leilão virtual com lances iniciais a partir de R$50,00. O catálogo pode ser acessado AQUI
Confirma o texto curatorial:

A curadora, que também é artista, refletiu sobre o tema com a obra “Vivendo?”
A psiquiatra mais importante do país, Nise da Silveira, é nordestina. Nasceu no ano de 1905, em Alagoas, e dissertou sobre formas de amenizar, através de práticas artísticas, o estado de delírio e outros adoecimentos mentais dos pacientes aprisionados nos antigos manicômios.
Nise foi reconhecida mundialmente por humanizar as práticas de cuidado em saúde mental. Ela foi radicalmente contrária às formas violentas de tratamento psiquiátrico dadas na sua época. Essas violências incluíam confinamento, elétro-choque, lobotomia e outras torturas. Ao longo da sua vida, a psiquiatra criou ateliês de pintura e modelagem coletivos e ao ar livre, (muitas vezes incluía cachorros nesses ambientes) com a intenção de diminuir o sofrimento e permitir que as pessoas em tratamento mental tivessem uma reabilitação sensível e humanizada.
Essas experiências com pintura tiveram por consequência o entendimento das sutilezas dos diversos padrões mentais humanos. As pessoas em tratamento apresentaram melhoras por obterem mais vínculos com a realidade, com a criatividade, com a expressão simbólica e com a compreensão da natureza instintiva, presente em todo ser humano.
Pensando no trabalho de Nise da Silveira, a Exposição Além dos Muros apresenta uma seleção de obras de arte produzidas por mais de 40 artistas. Essas pessoas brilhantes embarcaram na experiência de refletir sobre saúde mental, política antimanicomial e liberdade de expressão. Refletiram sobre os muros que cercam nossa existência e aprisionam nossa forma de amar, pensar, criar e pintar, sobre o que transporta as ideias, sensações, sentimentos e bandeiras política para além das convenções e conveniências.
A maior parte das(dos) artistas aqui presentes são da “corrente” da arte urbana pernambucana, e algumas dessas pessoas inovaram, trazendo o estilo abstrato para compor esse catálogo, exposição e leilão. Outras pessoas mantiveram o estilo graffiti original, algumas usaram spray, outras usaram tantas acrílicas e óleo. Algumas artistas nesta curadoria bordaram belas peças, outros apresentaram esculturas. Independente da linguagem as mensagens do subconsciente (e do consciente) são divinamente apresentadas.
Em tempo, destaco que, a mesma arte urbana que engrandece o dia a dia da população que transita nos grandes centros urbanos, através do seu imenso impacto, vivificando a vida, diminuído a poluição visual de territórios muitas vezes cinzas e estressantes, é a arte urbana que entra na galeria, no museu e traz temáticas de caráter social importantes, pedagógicos e com uma poesia estética única.