Marcha da Maconha ocupa centro do Recife neste sábado (19)

Protagonismo feminino marca a realização da 11º edição da Marcha da Maconha
A décima primeira edição da Marcha da Maconha do Recife vai ocupar as principais avenidas do centro da capital pernambucana no dia 19 de maio (sábado). A concentração começa às 14h, na Praça Oswaldo Cruz, a conhecida “Praça dos Punks”, e segue até o Pátio de São Pedro, onde será realizado o 5º Festival de Cultura Cannábica. A ação tem a articulação e organização do Coletivo Antiproibicionista de Pernambuco (CAPE) e da Renfa – Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas.
Com o slogan “Nossa intervenção é pela legalização JAH!”, desde o início do ano, a Marcha da Maconha vem promovendo diversas reuniões em espaços abertos ao público com os objetivos de ampliar sua capacidade de realização e democratizar o acesso à sua construção. A partir desses encontros, foram definidas data, percurso e todas as atividades formativas realizadas e encampadas por moradores e coletivos de diversas comunidades do Recife. Ao todo, foram realizadas mais de 15 atividades formativas – oficinas, debates e o cineclube THCine – que acontecem até o dia da Marcha, em lugares como Ilha de Deus, Ibura e Cajueiro Seco.
Todas as atividades foram formatadas em torno de lutas comuns, mas atendendo também às especificidades de interesses de grupos. Entre eles, os que lutam pelo uso medicinal da cannabis para a produção de medicamento artesanal à base do cannabidiol, extrato retirado da cannabis sativa (maconha) que ativa a comunicação neuronal e ajuda no tratamento de vários doenças. Houve ainda a participação de grupos e coletivos periféricos que defendem a legalização como forma de parar o genocídio contra a juventude negra. A arte que represente a Marcha da Maconha 2018 foi escolhida por votação popular, que elegeu um artista negro e periférico, Bernardo Wictor.
Mais uma vez, a edição deste ano tem forte protagonismo feminino com a atuação de mulheres de diversos movimentos entre eles, destacadamente, a Renfa. Para a psicóloga Anamaria Carneiro, que é militante da Marcha e integrante do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas – CEPAD, a discussão é urgente e deve ser ampliada. “O controle do Estado a população negra foi e é devastador. Não podemos falar sobre a questão da legalização e regulamentação do uso de drogas sem fazer um debate sério e consistente sobre os temas de raça e classe que demarcam claramente a forma de gerir e propor políticas públicas no Brasil. O movimento da Marcha da Maconha não trata como ‘normal ou comum’ a realidade de encarceramento e homicídios em nosso país, eles são o efeito direto das políticas públicas sobre drogas que estão sendo implementadas”.
Lutas
A Marcha da Maconha é plural e cotidiana, de caráter feminista, antirracista, anticapitalista. A cada ano, reinventa-se a partir das demandas da maioria que a constrói, formada por moradores e moradoras das periferias da RMR. Quem faz a Marcha luta por uma profunda mudança na forma como as drogas são vistas e tratadas pela sociedade e, este ano propõe uma série de frentes de batalha relacionadas entre si:
– Pela descriminalização do usuário e regulamentação do uso de todas as substâncias psicoativas no país. A chamada “Guerra às drogas”, renomeada pelos ativistas como “guerra às pessoas pretas e pobres”, empodera polícias e milícias, alimenta e uma lucrativa indústria do pânico e do medo, enquanto mata e encarcera principalmente a população negra, jovem e da periferia. Essa forma de atuação não gera resultados que representem melhoria de bem-estar para a sociedade, não impede o consumo e traz como efeito colateral a criação de uma rede que gera mais mortes do que o consumo em si.
– Por uma política de desenvolvimento da maconha medicinal. Os efeitos terapêuticos da maconha são conhecidos há cerca de 2000 anos e comprovados por pesquisas mais recentes. Muitas doenças crônicas podem ser tratadas com o uso de remédios à base de THC, CBD ou um dos mais de 400 componentes da planta. Como impedimentos, pessoas que podem ser beneficiadas enfrentam um enorme tabu e a proibição, que leva ao atraso científico, e ao risco para a sua aquisição, seja através da compra, do plantio ou da importação de derivados. Graças à mobilização da sociedade, têm sido concedidos salvo-condutos para plantio caseiro e, em 2015, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) retirou o canabidiol do grupo de substâncias proibidas, reclassificando-a como substância de uso controlado, regulamentando assim sua importação.
– Contra o genocídio da população negra. A proibição da maconha tem origem racista. Chamada de “pito do pango”, foi proibida pela primeira vez no Brasil em 1830, tempo em que também se proibiam outros hábitos da população negra, como a capoeira e o samba. A proibição tem relação direta com a violência nas comunidades pobres afetadas pelo narcotráfico.
– Contra a intervenção militar no Rio de Janeiro e a possibilidade de sua implantação em outras capitais. Iniciada após o Carnaval, que levou severas críticas ao governo Temer para a Sapucaí, a intervenção militar no Rio de Janeiro é um ato eminentemente político. O Brasil registra 57 mil mortes violentas por ano, grande parte em decorrência da equivocada política de guerra às drogas declarada contra a população negra e periférica, mesma parcela que figura como alvo central dessa intervenção. A Marcha da Maconha do Recife defende um projeto político que respeite a liberdade e a condição de vida de todas as pessoas.
SERVIÇO
Marcha da Maconha Recife 2018 – Nossa intervenção é pela legalização JAH!
Praça Oswaldo Cruz
9 de maio (sábado).
Concentração às 14h. Saída às 16h20.