Giros & Giras: Clipes afrofuturistas de artistas do Nordeste

São cinco produções audiovisuais que valorizam as intelectualidades afrodiaspóricas nas artes

Texto: Maya Santos | Imagem: Thays Medusa

O universo da produção cultural surpreende o mercado com suas inovações todos os dias, entre elas uma concepção estética está em evidência: o afrofuturismo. A linguagem surgiu em 1994, a partir do ensaio chamado “Black to the Future” (em português “Pretos para o futuro”), escrito pelo crítico cultural Mark Dery. O afrofuturismo é um movimento intelectual e cultural que utiliza o conceito da tecnologia para projetar um futuro do ponto de vista da comunidade negra, traduzindo suas perspectivas através de obras literárias, musicais, acadêmicas e do audiovisual. 

O movimento extrapola as limitações imaginárias impostas pela representações ao nosso alcance. O afrofuturismo enviesa sua resistência como uma alternativa às narrativas de violências que o povo negro em diáspora já vivenciou e ainda vivencia. Com isso, utiliza  do escapismo para projetar um futuro utópico/distópico para dar conta de uma realidade da negritude que não tenha sido sujeita à opressão, racismo e estereótipos impostos pela cultura ocidental.

Trazendo o olhar para as produções no audiovisual, podemos ver a linguagem do afrofuturismo em nossa tela de celular ou televisão por meio de videoclipes produzidos por artistas negros/as/es brasileiros e em alta no Nordeste, que podem ser acessados pelo Youtube. Confira a lista! 

COBRA – BARBARIZE (2023)

Produzido pelo duo pernambucano Barbarize, o videoclipe Cobra traz elementos da cultura Hip Hop e estética cyberpunk, um subgênero alternativo de ficção científica. A película é permeada pelo arquétipo da serpente, trazendo na sua narrativa a mudança de postura diante das adversidades e violências ao longo da construção do duo, através da analogia de troca de pele que a cobra faz e que carrega a simbologia de renovação e a regeneração. A música composta por Babi e Yuri, idealizadores do projeto Barbarize, é composto por influências do gênero Afrotrap Music. A produção conta com mais de 77 mil visualizações no Youtube. 

  (Foto: Thays Medusa)

HIPNOSE – LARISSA LUZ (2020)

“Num futuro próximo, cientistas testam uma nova forma de hipnose que teletransporta as pessoas através da música para uma realidade inventada onde o movimento é fonte de poder”. A sinopse anuncia um experimento audiovisual que promete e hipnotiza quem assiste. Com elenco preto e diverso, o videoclipe Hipnose traz hologramas, mistura de estilos na coreografia, como Twerk, Afrobeat e Hip Hop, além dos figurinos na cor prata que se destacam no cenário sóbrio. O clipe tem direção e roteiro pela cantora e compositora baiana Larissa Luz, e soma quase 18 mil visualizações no Youtube. 

(Foto: Reprodução/Youtube/Larissa Luz)

FAZ A EGYPSIA (ARE BABA) – ÀTTØØXXÁ FEAT O BIRUTA (2019)

As músicas do grupo ÀTTØØXXÁ sempre trazem em sua sonoridade a efervescência do Carnaval da Bahia. Na película Faz a Egypcia (Are Baba), o Egito Antigo foi homenageado através do resgate das vestimentas, os tons dourados que remete ao ouro e que facilmente podemos relacionar com as riquezas encontradas no conhecimento desses povos. Além disso, o ballet se destaca no vídeo, revelando a sua beleza estética e também valoriza a diversidade. Com muitos movimentos de câmera e um cenário que mostra as estrelas, paredões e muito “close”, o vídeo soma mais de 396 mil visualizações no Youtube.

(Foto: Reprodução/Youtube/Àttoxxá)

NAVE – XÊNIA FRANÇA (2019)

Nos impactando com cenas do filme “Espaço Sagrado” de 1975, dirigido por Geraldo Sarno, a cantora e compositora Xênia França nos carrega para um futuro distópico, uma das características do movimento afrofuturista do clipe Nave. Com trajes que lembram as roupas de astronautas, Xênia é apresentada como uma exploradora que aos poucos vai reconhecendo o território que pisa. No clipe, ela se conecta às vivências do povo ancestral que viveu ali por meio de detalhes como búzios, velas, vislumbres de mulheres de terreiro, cabelos trançados e outros símbolos que remetem a uma realidade que permanece marcada. Essa viagem espacial soma mais de 117.906 visualizações no Youtube.

(Foto: Reprodução/Youtube/Xênia França)

ESCORRENDO CÉU PELA CANELA – BIARRITZ (2020)

O clipe da música “Escorrendo Céu pela Canela”, faz parte do álbum “Eu Não Sou Afrofuturista” da artista transmídia cearense radicada no Recife, Biarritz. Protagonizado pela artista, a narrativa do vídeo conta a história de um resgate ancestral dentro de um sonho. Biarritz atua na cena como Video Jockey (VJ) em eventos desde 2014, e traz nesta produção audiovisual elementos visuais da cultura dos memes, GIFs e pela embargada linguagem da internet, marcas que diferem as produções audiovisuais da multiartista. Mesmo compondo um álbum que diz não ser afrofuturista, os materiais que foram realizados por Biarritz tendo a ser associados ao movimento.

(Foto: Reprodução/Youtube/Biahits)

Escrito por:

Maya Santos

santoscsmaya@gmail.com

 @mayacsantos