Mandatos de Dani Portela e Rosa Amorim enegrecem a Assembleia Legislativa de PE

Texto: Lenne Ferreira e Giovanna Carneiro | Imagens: Fran Silva
Do lado de dentro da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) dava para ouvir o batuque e a alegria da militância esquerdista que foi prestigiar as posses de Dani Portela (PSOL) e Rosa Amorim (PT) como deputadas estaduais. A comemoração conjunta, que contou com uma programação musical na Rua da Aurora, marcou um dia histórico para a população pernambucana, quando duas mulheres negras ocuparam uma casa legislativa majoritariamente composta por homens brancos. O compromisso com a luta por moradia, pelos direitos para mulheres e juventude, pela igualdade e justiça sociais foram destacadas pelas parlamentares como norteadores dos seus mandatos que representam o enegrecimento da Alepe.
Segurando a placa com o nome de Marielle Franco, Dani Portela tomou posse como deputada estadual na Assembleia Legislativa de Pernambuco. A flor presa aos cabelos cacheados, o sorriso largo, que são marcas registradas da parlamentar, também estavam presentes na cerimônia. Em meio a tantos clichês da velha política institucional, com famílias brancas de sobrenomes influentes com seus ternos formais ocupando a casa legislativa onde as decisões mais importantes sobre as políticas públicas para os pernambucanos serão tomadas, ver o corpo negro e feminino de Dani Portela, que se assemelha à maioria da parcela da população brasileira que mais sofre com a ausência de acessos e violações de direitos humanos, representa uma quebra de paradigma.

Com um histórico de lutas sociais, Dani recebeu o carinho das/dos eleitoras/as
Representante única do PSOL na Assembleia, Dani Portela almeja assumir a presidência da comissão de Direitos Humanos da casa. Uma articulação que iniciou com a produção de um documento com mais de 70 assinaturas de movimentos e entidades sociais que apoiam a parlamentar.
“Hoje eu não subo essas escadas sozinha, se eu subo essas escadas é porque cada uma e cada um de vocês chegou até aqui junto comigo. A gente vai ter a pauta da moradia na centralidade desse estado, vocês vão ter essa casa de portas abertas para debater um Pernambuco mais igual e vocês vão contar comigo para isso. Enquanto morar for um privilégio para poucas pessoas, ocupar vai ser sempre um direito”, declarou Dani Portela em um discurso emocionado.

Ana é militante pelos direitos das trabalhadoras domésticas e foi voluntária na campanha de Dani Portela
A eleição da parlamentar tem um significado importante que demonstra a força feminina para impulsionar mulheres negras a ocuparem espaços de poder. Diretora de finanças do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas, Ana Correia mora na Caxangá e foi uma das voluntárias da campanha a parlamentar. Ela fez questão de prestigiar a posse da parlamentar, que ela acompanha o ativismo. “Conheço Dani desde o começo da luta dela, por isso ajudei na articulação das mulheres para conquistar voto pra ela, que é uma mulher do povo e que eu admiro muito”, declarou. Ela não largou a portaria da Alepe até encontrar com a deputada e dar um abraço apertado.
Batuque do Movimento Sem Terra festejou posse de Rosa Amorim
Filha de assentados da reforma agrária e criada no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Rosa Amorim tomou posse do seu mandato como deputada estadual de Pernambuco acompanhada de seus companheiros e companheiras de luta. Em caminhada com assentados que integram o MST, que teve início no Armazém do Campo do Recife, Rosa chegou à Assembleia Legislativa de Pernambuco relembrando a luta pela reforma agrária e o compromisso em combater a fome no Brasil.
“Hoje é um dia muito emocionante para nós, porque é o dia em que o MST ocupa uma cadeira legislativa na Alepe, tomando um lugar que é nosso por direito. Quem toma posse aqui hoje não é Rosa Amorim, mas sim o Movimento Sem Terra, que há 29 anos desempenha um trabalho de integração do campo com a cidade e garante alimento para milhares de pessoas”, declarou Rosa em seu discurso.

Filha de militantes históricos do MST, Rosa Amorim percorreu um caminho de lutas pelo direito à moradia (Foto: Ashlley Melo)
A parlamentar foi uma das escolhidas pelo MST para disputar um cargo legislativo nas eleições de 2022, quando, pela primeira vez, o movimento decidiu lançar candidaturas próprias por todo o Brasil com o objetivo de ocupar a política institucional e atuar de forma mais efetiva e integrada no combate a fome e a insegurança alimentar, que atualmente assola mais de 33 milhões de brasileiros.
Eleita pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Rosa Amorim afirmou que uma de suas primeiras ações enquanto deputada será a realização de um estudo aprofundado sobre a situação da fome no estado de Pernambuco. “Nós lutaremos e trabalharemos para garantir que todo mundo possa ter três refeições por dia”, declarou a parlamentar que tem um discurso alinhado com o presidente Lula.