Debate eleitoral televisivo e ausência de candidatos/as negros/as
Texto: Lenne Ferreira
Por mais que haja uma compreensível unidade política dos movimentos negros em torno da eleição de Lula não dá para simplesmente ignorarmos e não repercutir a exclusão dos dois ÚNICOS candidatos negros, no caso Léo Péricles (UP) e Vera Lúcia (PSTU), do debate com presidenciáveis promovido pela Rede Globo, que ainda mantém o maior monopólio de audiência do Brasil.
Seguindo a lei eleitoral, foram convidados/as para o debate os candidatos/as de partidos com representação no Congresso Nacional de, no mínimo, cinco parlamentares e sem impedimento na Justiça. Desse modo, o convite a outros presidenciáveis com menor projeção é OPCIONAL já que seus partidos não têm representação suficiente para reivindicar espaço. Entretanto/contudo/todavia vivemos um momento de intensos debates raciais que apontam para a importância inegociável da representatividade negra em todas as esferas sejam elas públicas ou privadas.
A pernambucana Vera também teve seu lugar negado no debate e nem aparece nas pesquisas de intenção de voto
A disparidade da presença de pessoas pretas nas universidades, por exemplo, foi minimizada com lei de cotas raciais que simbolizam “reparação” como o próprio Lula mencionou no debate global. Da mesma forma que esses instrumentos foram criados em instituições públicas de ensino, quadros governamentais, editais, entre outros, não é exagero sugerir uma revisão da legislação eleitoral para possibilitar maior pluralidade de narrativas nos debates televisivos. E se a lei deixa a brecha OPCIONAL aí é que não tem desculpa mesmo. Portanto, a emissora em questão, que se coloca como “aliada” ao enfrentamento do racismo poderia/deveria ter garantindo a participação de Léo Péricles ou da candidata Vera Lucia na TV SIM.
Colocar preto em novela e excluir preto de um importante debate às vésperas das eleições é uma contradição. Fazer vista grossa é colaborar para o apagamento de lideranças negras, o que já é histórico no processo eleitoral brasileiro. Péricles e Vera barrados nos estúdios Globo sou eu ou qualquer outra pessoa preta barrada na porta de qualquer outro lugar desse país.
