De mãe para filha: Tayná Maisa perpetua ancestralidade por meio da culinária

Texto: Lenne Ferreira | Imagens: Divulgação
Do Barro, Zona Oeste do Recife, Tayná Maisa começou a desenhar seus passos em direção a um sonho que também foi sonhado por suas ancestrais. A mais velha entre os quatro filhos de Dona Ceça, sua maior inspiração, ela aprendeu cedo a arte de cozinhar que a levou até a criação da Dùn Ajeun Culinária Afro, restaurante localizado no bairro da Boa Vista, região central da capital, que completa quatro anos de uma trajetória que relaciona gastronomia e identidade negra .
Aos 28 anos, a empresária, chef de cozinha, produtora e candomblecista, a partir do conceito Sankofa (“Nunca é tarde para voltar ao passado e pegar lá trás o que ficou”) busca perpetuar os ensinamentos da culinária familiar. A mãe, hoje com 52 anos, que foi adotada por uma família, sempre sonhou em ser confeiteira profissional, mas não conseguiu ter a formação necessária e precisou trabalhar como empregada doméstica para garantir a sobrevivência dos filhos. As adversidades e limitações estruturais não foram suficientes para impedir que a sua primogênita conseguisse contrariar as estáticas impostas para mulheres negras.
Em 2019, mesmo sem capital financeiro, Tayná iniciou seu negócio produzindo pamonhas a partir da receita de Dona Ceça e de sua já falecida tia, Dona Gercina, hoje, representada pela, filha Paula de Cássia, que atua na cozinha do restaurante. Ativista pelas causas raciais, a chef viu na comida a oportunidade de também fazer política e iniciou pesquisas sobre ingredientes com origem africana como forma de valorizar a contribuição do povo negro para a gastronomia brasileira.
A partir das receitas familiares, Tainá passou a questionar o racismo estrutural e estigmas históricos que recaem sobre o povo preto e que também foram cristalizados na Gastronomia. Assim, passou a ressiginificar receitas. Um exemplo é o bolo popularmente conhecido como “Nega maluca”, um termo racista, que ganhou uma nova versão pelas mãos da cozinheira, que o renomeou de Bolo Afrodescedente, uma receita a base de café especial africano e Amarula.
Quem chega na Dùn Ajeun pode conhecer um cardápio variado com pratos que chamam a atenção pela criatividade e sabor, a exemplo “Záfrica“, receita autoral composta por purê de inhame com leite de coco, peixe na crosta de amendoim com alecrim, vinagrete de banana e azeite de coentro, acompanha arroz. Outro destaque, que já virou queridinho da clientela, é o “Bolinho de Banana da Terra” que tem entre os recheios, carne de sol seca. Os pratos remetem aos fazeres de sua mãe e também das tabuleiristas, quituteiras e baianas de acarajé, consideradas pioneiras no empreendedorismo brasileiro.
- AfroArroz
- Bolinho de Banana da Terra
- Bolo Afrodescendente
“Assim como aconteceu com nossas ancestrais, a Dùn Ajeun nasce da necessidade, da escassez que o racismo fomenta dia após dia e carregar essa história é compreender que a gente tem um desafio diário. Para nós, mulheres negras, é muito desafiador estar à frente de um negócio potente quando a sociedade nos coloca enquanto povo subalterno”, pontua ela. Enfrentamos muitas dificuldades para poder partilhar
A excelência do trabalho da chef, que vem ganhando cada vez mais reconhecimento, deu origem a uma expansão que, hoje, também agrega o Centro Cultural Diaspórico. O espaço, que funciona no mesmo endereço do restaurante, fomenta a economia criativa e inclui outros empreendimentos afrocentrandos: Licoteria Capibaribe (bebidas artesanais), Gana Hare e Zarina Moda Afro (beleza).
“Essa é a nossa missão: potencializar a nossa autonomia financeira e dos nossos parceiros, mas também honrar com o legado ancestral e proporcionar um lugar de experiência única desde a experiência gustativa, passando por bem estar em um local acolhedor com as nossas referências da culinária e história africanas”, declara a chef, que não anda só. Filha de Iansã, ela escreve sua história com a força dos ventos.
Para comemorar quatro anos de história, a empresária realiza um evento comemorativo neste sábado (15). Entre as atrações estão Isaar, AfonJah com a apresentação Luzes da África, Poli, com participação de Ana Benedita, Dj Iury Andrew e Afoxé Oyá Alaxé.
SERVIÇO
Aniversário Dùn Ajeun Culinária Afro, das 19h às 0h
Endereço: Rua da Santa Cruz, n° 174, Bairro da Boa Vista.
Entrada: 1k de alimento