Criança e uma mulher morrem vítimas de tiroteio na comunidade do Bode

Cinco pessoas foram atingidas por tiros disparados por homens encapuzados com uma camisa com identificação da Polícia Civil, segundo relatos dos moradores
Texto: Maya Santos | Imagem: Arquivo pessoal
Mais uma mãe chora a perda violenta da filha na comunidade do Bode, Zona Sul do Recife. Na última sexta-feira (2), um atentado atingiu com balas cinco pessoas, três ficaram feridas e duas foram à óbito. As vítimas fatais são uma mulher conhecida como Zena (idade não informada) e uma criança de apenas um ano e dois meses.
A criança que foi a óbito era chamada de Aryelly Lavynia Barros França Nogueira, única filha de Andréa Carla Barros de França Oliveira, 17 anos, batuqueira da Nação Encanto do Pina, que também foi atingida pelos disparos de arma de fogo.
Segundo relatos de moradores, por volta das 22h30, um carro preto com quatro homens encapuzados e com blusas da Polícia Civil chegaram atirando na Rua Oswaldo Machado, no Pina. Em vídeos que circulam nas redes sociais é possível ver o desespero das pessoas que estavam no local. A PC ainda não se posicionou sobre o caso.
No início da tarde desta segunda-feira (5), populares fizeram um protesto na Avenida Herculano Bandeira, no Pina, um protesto pedindo paz e justiça pelas mortes ocorridas. Mas, ainda hoje, será realizada uma “Caminha Pela Paz”, organizada pela Nação Encanto do Pina e o Baque Mulher, em memória da pequena Aryelly e em solidariedade à sua mãe, Andréa, e à família. A concentração será na Rua Osvaldo Machado, às 16h, e o trajeto segue em direção à Igreja do Pina, localizada na Tv. Francisco Valpassos Oito, 303. “Saímos às ruas ecoando nossos pedindo por paz em nossa comunidade”, diz texto da postagem.
Em entrevista, um morador que não quis se identificar, explica que houve a tentativa de socorro, mas ambas não resistiram e foram a óbito. A “noite de terror”, como definiram os moradores da localidade, reverberou principalmente nas redes sociais em que mães que residem na comunidade expressaram medo de sair de casa. “Eu fiquei com o coração tão apertado que estou com medo de sair de casa com o meu pequeno. Eu não consigo imaginar a dor que você está sentindo, mas eu desejo que Deus dê um abraço na sua alma e chegue em seu coração trazendo calma. Meus pêsames!”
Em nota, assinada por pelo Coletivo Pão e Tinta e Coletiva Cabras, integrantes das organizações sociais se posicionaram. Leia na íntegra:
“É com muita tristeza e indignação que perguntamos: até quando? Na noite de ontem (02/06), a Comunidade do Bode viveu mais um momento de terror, onde vidas são perdidas.
As organizações sociais têm atuado de forma exaustiva na promoção de Direitos Humanos utilizando arte e cultura como principais instrumentos em defesa do território, mas isso não é o bastante. Precisamos de políticas públicas efetivas de redução da violência, que passa por acesso à direitos básicos como moradia digna, empregabilidade, saúde e educação pública de qualidade.
Deixamos aqui nosso sincero apoio a todes que sofrem nesse momento. Continuaremos na luta por justiça social. Até quando o Estado vai usar a repressão policial como solução ao invés de ouvir a comunidade!? Parem de nos matar!”, expõe nota.
Sobreviventes
Das cinco pessoas atingidas pelos tiros, três ficaram feridas, um casal e a mãe de Aryelly, que receberam atendimento no Hospital da Restauração. Andréa, 17 anos, recebeu alta no final da tarde do sábado (3).
Apesar de ter sobrevivido, a dor de perder a única filha é imensurável. “Andréa é minha sobrinha e Aryelly minha sobrinha neta. A família está muito abalada, precisando de altos corres, mas estamos querendo lutar pela justiça e dignidade da nossa pequena”, explicou Mari Passos, tia avó da pequena Arielly.
Em nota, a Nação Encanto do Pina, postou nas redes sociais um pedido de ajuda para suprir os custos com medicamentos, mantimentos e apoio, por meio do pix: jahmile.passos@gmail.com.
“Estamos sem palavras. Hoje acordamos de luto. Não tem sido fácil. Nunca é. Sentimos muito pela passagem prematura de nossa pequena batuqueira. Que todo o Sagrado conforte a família!
Dentro do que nos é possível fazer para apoiar Andrea e sua família neste momento tão cruel, pedimos pela solidariedade, empatia e apoio das pessoas que fazem parte e acompanham a Nação para ajudar com qualquer quantia em dinheiro”, diz trecho.
POLÍCIA CIVIL
A reportagem entrou em contato com a assessoria da Polícia Civil, buscando um posicionamento sobre a suposta a participação de agentes da corporação, mas até o fechamento desta matéria não obtivemos retorno sobre o caso.