Acesso à terapia: Direito ou privilégio?

Conheça serviços que oferecem acompanhamento terapêutico popular no Grande Recife

Texto: Afoitas | Imagem: Reprodução da internet

A Constituição Federal de 1988 diz que Saúde é um direito universal e que o poder público deve fornecer tratamentos adequados. Entretanto, na prática, até para conseguir atendimento no Sistema Único de Saúde, a maioria dos brasileiros e brasileiras precisam penar para conseguir uma vaga.  E quando o especialista procurado é da área da saúde mental a dificuldade é ainda maior. Faltam profissionais nos quadros funcionais da rede pública, o que compromete o acesso da população socialmente mais vulnerável, majoritariamente preta, a serviços de cuidado que promovam bem estar emocional.

De acordo com dados da Organização Pan Americana da Saúde (Opas), uma em cada dez pessoas precisará de cuidados de saúde mental em algum momento da vida. A chamada “quarta onda” da pandemia de coronavírus promoveu um aumento dos transtornos mentais, entre eles depressão, transtornos de ansiedade e dependência química. As desigualdades raciais e sociais, problemas históricos, também representam fatores que influenciam no adoecimento mental.

Apesar das inúmeras pesquisas que revelam o avanço de doenças como depressão, as gestões públicas parecem ignorar o quadro. Em 2020, apenas 51% dos 194 Estados Membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) relataram que sua política ou plano de saúde mental estava em consonância com os instrumentos internacionais e regionais de direitos humanos, muito aquém da meta de 80%. E apenas 52% dos países cumpriram a meta relativa aos programas de promoção e prevenção de saúde mental, também muito abaixo da meta de 80%.

Os fatores raça e classe também aparecem como vetores que influenciam no quadro geral da saúde mental da população. No Brasil, cerca de 12 mil pessoas tiram a própria vida e, dentre elas, jovens pretos são o maior número, segundo pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS). O estudou mostrou que o risco de suicídio entre jovens negros do sexo masculino entre 10 e 29 anos é 45% maior do que entre jovens brancos da mesma faixa etária. Os dados fazem parte de um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde e pela Universidade de Brasília (UnB), publicada em 2018.

Em 2021, economistas americanos afirmaram que 3% a 4% da população mundial sofre de depressão e ansiedade e que esse quadro está correlacionado com a renda. Em outras palavras: esses transtornos são 1,5 a 3 vezes mais frequentes nas pessoas com menor renda. Os pesquisadores concluíram que há uma retroalimentação entre a pobreza e esses transtornos psiquiátricos: a pobreza causa depressão e ansiedade, e estas aumentam a pobreza pela sua repercussão negativa no trabalho.

A falta de informação e condições financeiras para recorrer a tratamento psicossocial é a realidade da maioria das pessoas pobres. Recorrer a serviço privado só é uma opção para quem tem condições de pagar pelos preços cobrados. Em média, uma consulta com um psicólogo custa R$130 na Região Metropolitana do Recife. Normalmente, o acompanhamento terapêutico é composto por, no mínimo, um encontro semanal, o que equivaleria a R$650 ao mês. Um valor que não cabe no orçamento mensal de um assalariado.

Thiago Albuquerque dos Santos, que é bacharel em Psicologia e pós-graduando em Psicologia em Emergências e Desastres, observa o crescimento na procura por acompanhamento psicoterapêutico. Como profissional da área, ele alega que a busca maior é por terapia com preço popular. “Toda a semana entram em contato, uma ou duas pessoas. Existem também as pessoas mais próximas que me pedem indicações de atendimentos gratuitos nas Clínicas Escola. Com isso, fora as duas pessoas que citei, acrescento mais uma pessoa por semana”, pontua.

O psicólogo explica que o Conselho Federal disponibiliza uma tabela com os valores dos honorários a serem cobrados pelos profissionais e que os preços são fora da realidade da população classe baixa: “Os valores médios dos atendimentos são altos para quem depende dos programas sociais, a frequência em que um cliente frequenta a terapia é geralmente semanal e diante do valor do salário-mínimo, fica impossível para muitos poderem iniciar um processo de psicoterapia.”

A população de baixa renda tem como alternativa mais acessível o CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), que é uma política pública do Governo Federal executada pelo poder municipal. O Centro oferece à comunidade com menor poder aquisitivo o acesso a atendimento especializado para tratar transtornos na saúde mental. Porém, apesar de ser um sistema “porta aberta” (não é necessário um encaminhamento), prioriza situações graves como transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas. Atualmente, o Recife conta com 17 Centros distribuídos em seis Distritos Sanitários. Existe um déficit de mais de 100 profissionais e todos os CAPS sofrem com questões estruturais, segundo denunciou o vereador Ivan Moraes em audiência pública realizada em 2022.

De acordo com o site do Ministério da saúde: “O objetivo dos Caps é atender as pessoas com transtorno mental severo e persistente e seus familiares.” Então, se o problema não for relacionado a uso de drogas, álcool ou não seja um transtorno incrivelmente grave, o paciente não será atendido. O que reduz bruscamente o público que pode ser usuário do CAPS.

Por entender que a saúde mental é um direito básico, muitas entidades e centros educativos e projetos sociais oferecem serviços terapêuticos com preços populares. Confira alguns:

Clínica Projet

Pra Preto Psi

Terapretas

Universidade Católica de Pernambuco | Contato: 2119-4115

Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire) | Contato: 2122-3511

Faculdade de Ciências Humanas de Olinda | Contato: 3419-4100

Faculdade Esuda | Contato: 3412-4267

Estácio | Contato: (81)98844-9538

Uninassau | Contato: 3412-6371

Centro Universitário Brasileiro (Unibra) | Contato: clinica.psicologia@grupounibra.com

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Afoitas Jornalismo

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